A série animada Splinter Cell: Deathwatch, lançada pela Netflix no último dia 14, realça aquele sentimento que há tempos temos alimentado junto à Ubisoft: Viver novamente uma aventura com Sam Fisher. Ainda sem grandes novidades sobre o remake de Splinter Cell já anunciado, a série tenta ser um produto interessante para o fã da franquia, mas acho que está um pouco longe de ser isso.

Ser ou não ser Splinter Cell? Eis a questão
Splinter Cell é uma franquia que tem uma marca inegável: Stealth. O universo do jogos é simples: Um soldado muito bem treinado numa aventura de espionagem, infiltração e ações táticas nos bastidores que precedem um grande perigo. É uma mistura de James Bond, Metal Gear Solid e Jason Bourne com muita ação e pouca fala. A série animada, criada por Derek Kolstad (famoso por John Wick) consegue imprimir um pouco da ação fiel dos games, mas para por aí.
Óbvio pelo produto que é, a série tem uma grande carga de dramatização necessária, mas que foge do que se encontram nos games e isso impacta diretamente na impressão que o gamers fãs da franquia podem ter.

O lado bom da série
A história é muito boa: [SEM SPOILERS] Uma agente Splinter Cell, numa missão de resgate em solo para extrair um ativo da NSA desaparecido, se depara com o alvo morto. Sua ligação com o alvo é forte, o que compromete suas ações seguintes na missão, acabando com ela ferida e em fuga. A agente acaba alcançando a fazenda onde mora Sam Fisher, até então aposentado e afastado da NSA com o fim da Third Echelon.
Essa abordagem de um Sam Fisher mais velho é muito boa. Ele não deixou de ser quem é e durante toda a série, é reforçado a sua grandeza como herói. Liev Schreiber é quem dá voz ao maduro Sam Fisher, numa escolha bem acertada, que não tenta copiar o dublador original dos games e entrega a voz perfeita a um Sam Fisher cinquentão.
Não é game, é série!

Mesmo recheada de referências e fan service, Splinter Cell: Death Watch parece compreender mais os símbolos da franquia do que a sua alma. A série exibe os gadgets clássicos, o visual icônico de Sam Fisher e até enquadramentos que remetem diretamente aos jogos, mas perde o elemento que sempre diferenciou Splinter Cell: o peso do silêncio, da paciência e do suspense tático.
Em vez da tensão que fazia cada passo parecer uma decisão de vida ou morte, o que se vê é um ritmo mais acelerado e voltado à ação cinematográfica — algo que, embora funcione na tela, destoa da essência furtiva e metódica que os fãs aprenderam a dominar nos games.
O resultado é uma adaptação que fala com os fãs, mas raramente os faz sentir o mesmo que os jogos proporcionavam. Death Watch respeita o universo e os personagens, mas não traduz o “gameplay emocional” de ser Sam Fisher — aquele equilíbrio entre vulnerabilidade e precisão que definia a experiência original. É uma série que entende o que é Splinter Cell, mas não o como. E, para uma franquia onde o silêncio sempre falou mais alto que a ação, essa diferença faz toda a diferença.

Curiosamente, filmes como O Profissional, 007 e até a franquia Jason Bourne conseguem transmitir mais do espírito furtivo e tenso de Splinter Cell do que a própria animação. Nessas obras, há espaço para o silêncio e para a ação contida — momentos em que o olhar do personagem e o jogo de câmera dizem mais do que qualquer diálogo.
É justamente esse tipo de construção que falta em Death Watch. A série poderia explorar sequências de ação mais longas e introspectivas, com menos exposição e mais intenção, usando enquadramentos e perspectivas que remetessem à visão icônica dos jogos. Essa ausência de pausa, de leitura visual e de silêncio tira parte do charme e da imersão que sempre definiram a experiência de estar na pele de Sam Fisher.

Uma boa estreia, mas ainda distante do jogo que conhecemos
Mesmo com suas falhas em capturar o clima furtivo dos games, Splinter Cell: Death Watch é uma boa surpresa. A história prende, o desfecho é satisfatório e há um cuidado visível em expandir o universo de Sam Fisher para além do que vimos nos consoles.
Ainda assim, fica a sensação de que falta aquele DNA tático que fazia a franquia pulsar — o silêncio entre um passo e outro, a tensão antes de agir. Muitos de nós, fãs de longa data, esperamos que uma segunda temporada venha mais alinhada com o espírito dos jogos, especialmente com o remake se aproximando. Seria o momento perfeito para unir as duas experiências e devolver à série o clima de jogo que ela tanto merece.
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