Desde 1994, quando o console PlayStation chegou, eu não imaginaria que seria um marco e uma revolução no mundo dos games. Eu estava bem feliz com um SNES, alugando desesperadamente durante semanas Final Fantasy VI e agradecendo à Deus por não terem deletado meu save e jamais imaginaria que aquele console ia me fazer abandonar a Nintendo.
Pois bem, assim que eu pude conferir um numa loja no centro de SP rodando alguns jogos eu decididamente me organizei entre minhas economias e trabalho e fui rumo ao meu novo console.
O início do PlayStation na minha vida
Era tudo muito empolgante. Ter um console que rodava jogos em CD, com aquelas gráficos jamais imaginados por mim, mas ao mesmo tempo sonhando com a realidade de gráficos que temos hoje – o que pra mim está ótimo, nem vejo necessidade de buscar além – era tudo! Não me venha com qualquer outra nova idéia, não aceito.
Mas é preciso dizer que, mesmo com toda a dificuldade que aqui no Brasil tinhamos de acesso à video games, vivi uma era repleta de bons jogos e idéias que permeiam até hoje uma vontade saudosa de alguns remakes ou reboots.
Driver, Medal of Honor, Need fo Speed, Syphon Filter, Resident Evil, Final Fantasy VII, Metal Gear Solid, Silent Hill, Gran Turismo 2, Parasite Eve, entre muitas outras franquias clássicas saudosas, faziam daquele console para mim, a mais sedutora plataforma que você poderia ter em se tratando de biblioteca de jogos. Foi amor ao primeiro start e depois daquilo, o Dual Shock sempre esteve lá, ano após ano, gerações após gerações.
Hoje, com um PS4 Pro, me vejo olhando para meu futuro na plataforma e no mundos dos games. Por que ir ao PS5? O que eu vejo nele? O que eu quero dele? Vale mesmo à pena?
30 anos de plataforma transformaram e muito o cenário dos games e também o comportamento de consumo dos jogadores. Eu mesmo mudei minha forma de consumir por convicção e devido à minha extensa experiência e vejo hoje que é muito mais fácil errar ao investir na diversão do que acertar. Pois as coisas mudaram…
Primeiro, eu não posso deixar de ignorar o fato que vivo no Brasil, um país com economia difícil desde sempre. Coincidentemente 1994 também foi o ano em que o Brasil ganhou o Real, nossa moeda mais vindoura, desde o século passado. Era o sonho de uma moeda forte e parelha com as principais moedas do mundo, com uma economia interna forte.
Temos então uma baita abertura econômica e as importações e o inicio de modernização tecnológica no Brasil num ritmo muito maior do que no passado. Video games chegaram nesta época como um produto de entretenimento no mercado cinza, como a maioria dos eletrônicos de ponta. Você comprava um console importado, desbloqueado e como jogos não era distribuídos oficialmente aqui, a pirataria de jogos é que alimentava a maioria dos donos do console. Isso tornava mais barato ter um videogame e um acesso até maior à biblioteca de jogos.
As revistas pipocavam nas bancas mostrando o que o mundo jogava, o que era lançado e eram nas lojinhas de mercado cinza e anos mais tarde nas banquinhas de camelôs nas ruas que encontrávamos os jogos que elas divulgavam. Era um paraíso. O PS2 continuou aqui do mesmo jeito, porém alí começamos à ver tardiamente ele sendo oferecido em rede de lojas famosas e supermercados. Era mais uma opção de oferta, mas seus preços eram mais proibitivos.
Mas provavelmente isso já sinalizava o quanto aqui tinhamos avançado, quanto o console no mundo havia alcançados e a extensa biblioteca de jogos popularizada aqui mostrava a força, um modelo de sucesso. Ali não existia mais um costume comum de dizer que você queria um video game. Você queria um PlayStation. Foi dalí que surgiu um sentimento e um costume, que foi parar num programa de TV que entre gincanas, premiava a garotada com o tão sonhado PlayStation.
A força da marca estava num console poderoso, com uma ampla bilbioteca que popularizou inúmeros títulos. Que ajudou à construir legião de fãs de franquias como Grand Theft Auto, God of War, Need for Speed, Persona, Devil May Cry entre outras. Versões personalizadas de jogos como o famoso Bomba Patch, fortaleceu o futebol nos video games como nunca antes. estava definido alí o que iria fazer sucesso no futuro, que iria ter mudanças principalmente no mercado brasileiro.
Com a chegada do PS3 e Xbox 360, mudou-se o comportamento de consumo do brasileiro sobre video games. Muitos, acostumados com a pirataria, resolveram deixar o PS2 e migrar para o 360 para continuar jogando os games de forma barata que a pirataria de jogos permitia. No PS3, a tecnologia Blu-Ray impediu a pirataria na forma comum que estávamos mais acostumados. Eu mesmo, acreditando no poder da bilbioteca Playstation, comprei meu PS3 e descobri que o mesmo era desbloqueado, mas que era uma grande samba de criolo doido usar ele pirateado.
Foi aí que, ao passar por uma loja que vendia consoles no mercado cinza e ver um atendente jogando Call of Duty Modern Warfare, online, que eu percebi que toda aquela ginástica e dificuldade de jogar pirata e offline já estava ultrapassada e que a diversão real estava no jogo online! Voltei pra casa, atualizei meu console, descobri que precisava ter uma conta na PSN e naquele tempo não havia a brasileira.
Criei minha conta americana, fiquei me divertindo inicialmente com as demos gratuitas que podiam ser baixadas na PS Store e aí o meu comportamento de consumo mudou. Naquele tempo tambpem estava sendo popularizado no BR a internet de alta velocidade, hoje popularizada na fibra ótica. Era um gasto à mais. Mas também a internet já estava bem crescida e o mercado de games no Brasil mudou, tendo então a chegada das marcas Xbox e Playstation no comércio, de forma oficial.
Agora qualquer um podia comprar seu console via mercado cinza, ou oficialmente nas grandes varejistas de eletrônicos como Casas Bahia, Ponto Frio, etc. Foi aí que “pagar por jogos” foi a primeira realidade que meu bolso sentiu, junto com gastos agregados para ter o video game. Primeiro veio o console, depois a TV de Led, depois a internet de alta velocidade e depois os jogos originais.
Era a era de começar à comprar online. Vivia pesquisando em sites tentando comprar os títulos que queria mais baratos e nem sempre era possível pro bolso. Até que descobri nas redes sociais da época, grupos de compras e o mercado asiático online, que permitia importação doméstica, com frete grátis, com preço menor que o nacional mas com espera de até 25 dias…
Foi alí que conhecí o Alexandre Mu, que importava jogos e tinha parceria com algumas das lojas e aprendi o bê-a-bá de comprar jogos mais baratos e me divertir melhor, mesmo custando mais caro que viver na pirataria, o que no Xbox 360 ainda era uma realidade.
O bom desta época que existe o mercado no Brasil como existe hoje, com uma AMPLA variedade de opções de consumo, de varejo físico ou eletrônico e que recentemente ganhou o tão esperado Marco Legal dos Games que vai ajudar ainda mais a produção e comércio de videogames se tornar mais barata e comum para o consumidor.
Hoje com um PS4 Pro, tenho uma ampla biblioteca de jogos digitais, 2 contas PSN, algumas dezenas de jogos físicos e nenhum grande motivo pra migrar ao PS5.
Sinceramente eu não consumi nem metade da minha biblioteca. Posso muito bem consumir no console atual, não preciso de um ultima geração pra isso. O PS5 não é um console barato, como nenhum outro console Playstation das ultimas gerações foi e ainda tem o fator de mais gastos que eu preciso ter pra jogar o console, que é o acesso à internet, uma assinatura de serviços online Playstation e um jogo, que notamos hoje, no lançamento, sem choro nem vela, são necessários R$350.
Se você for colocar na ponta do lápis o custo de um PS5, de uma TV 4K 120hz ou monitor para ele, uma assinatura de serviços e uma média de 3 ou 4 jogos lançamentos, no ano, no regime de 1 ano, você irá se assustar. Mas isso não é o ponto principal do que eu penso. O que eu penso tem à ver com o que esse alto custo tem entregado, que o valha, que seja inteligente e de bom senso esse investimento.
Pra alguns isso pode não ser nada, pode ser o único gasto na vida ou nem isso. Mas eu costumo avaliar o seguinte: Se eu compro algo simples, o que eu espero é a excelência daquilo no que o permite ser: simples. Se você compra um alicate de unha por exemplo. Mesmo que seja um baratinho. Você no mínimo espera que ele funcione, corte a unha bem e que não quebre num tempo recorde, que eu sei que esse é um produto life-time, mas no prazo de 1 ano, esse alicate tem que cumprir fielmente seu papel.
Então para um console, que oferece serviços e que foi posicionado como um produto de última geração, poderoso e que tem que entregar jogos e serviços maravilhosos, não ver isso sincretizado e comum no produto, me faz pensar que não, não é no momento um console interessante. Nem o serviço PlayStation, seja na assinatura plus e PlayStation Network e nem o sistema operacional Playstation.
Um bom produto pra mim é a soma de vários fatores, detalhes, que juntos compõem uma bela proposta e é comum observar que em todo o console o público em comum comunga ou diverge sobre design do produto, funcionalidade, especificação técnica, possibilidades e dinamismo, coisa que o PlayStation tem ficado cada vez mais distante.
Explico: A dashboard, o sistema operacional do produto precisa ter sua personalidade, sua marca registrada e ser impecável na performance. Aqui eu não falo sobre rodar jogos, mas sobre ser eficaz, fluído e o mais dinâmico possível realizar ações que o console permite, ou seja, “engasgar” ao acessar um item do menu ou até segundos de espera para acessar uma parte de menu ou de um app do próprio sistema, não me parece muito satisfatório num equipamento tão caro assim.
Desculpe-me se para você isso pode parecer fútil ou não tão importante para o principal, que é jogar. É que estamos (mal) acostumados hoje em dia com dispositivos móveis tão rápidos e uma mídia cada vez mais rápida na disseminação de informação, que no nosso subconsciente, a gente entende que tudo caminha junto no mesmo ritmo. Neste caso deveria, mas nossa experiência prova que não.
E o PS5 acabou minando um suporte ao PS4 que deveria ser melhor, que tinha chances de aprimorar o produto e entregar ele no final de sua vida redondinho. Sem falar que a Sony acabou com muita coisa legal que era possível fazer no PS3 e que no PS4 não migrou, como a personalização de temas, por exemplo. No caso do dinamismo, uma das últimas atualizações do PS4 tirou a tradicional forma que havia de iniciar parties configuradas e salvas com meus amigos, pra colocar ela condicionada ao mensagens através de uns 5 cliques de menus. Antes eu precisava de 2.
Basta eu estar jogando qualquer jogo que tem o mínimo de acesso à internet que, ao acessar o menu rápido através do botão PS ele vai engasgar na maioria das vezes e se você avançar em suas opções, provavelmente vai ganhar um pequeno loading de informações simples. Bom, eu não preciso entrar no mérito, mas fica claro pra mim que coisas pequenas não devem ser um desafio e nem tanto um grande custo á um sistema poderoso.
Isso é detalhe que vai colocando nossos pés no chão diante do discurso de parceiros ou a própria marca ao afirmar que tem e entrega excelência.
E olha que eu não tive de forma comum ou demasiada as más experiências com a PlayStation Network que muitos usuários tiveram, desde o PS3. Como que de gratuito à pago, a qualidade do serviço continua a mesma? Aprendi que catálogo de jogos gratuitos é uma nuvem de fumaça sobre a qualidade de serviço, quem coloca em primeiro lugar ao assinar, está avaliando o serviço erroneamente. Nem entro no mérito de qualidade dos jogos ou o “valor” comparado deles, não faz diferença no que é importante.
Eu hoje enfrento um problema característico ao participar de parties com meus amigos que já tem o PS5: Erro de conectividade/servidor/NAT que não conecta a voz na party. Não me venha com a justificativa de velocidade, qualidade de internet, portas e as dezenas de possibilidades que possam existir.
Como é oferecer uma comunicação de voz, tão comum à vários anos em telefonia e comunicação pela internet, sem o mínimo cuidado de verificar uma série de características que podem compromete-la? A Sony nunca se fez essa pergunta.
Não é o fim do mundo, mas é mais um daqueles detalhes, que juntos, vão botando meus pés no chão nesse investimento caro.
Vamos falar dos jogos? Para mim, hoje existem cerca de 6 títulos que realmente usam o hardware de PS5 como se devem e entregam gráficos/jogos que podemos chamar de última geração. O restante é tentativa cheia de marketing e só. Não me convence. Tenho pena de quem é convencido, pq isso prejudica justamente a tão sonhada qualidade que merecemos e que o próprio mercado deveria perseguir à atingir. Se você é antenado no momento atual dos games e suas discussões, já viu que qualidade está sendo colocado em pauta.
Preços? Nunca foram baratos, mas a gente sabe que aqui no BR, nos últimos anos o poder da moeda dos nossos bolsos diminuiu muito. É você e seu poder econômico. Você pode ganhar 1K à mais do que ganha hoje, se você trabalha, mas na real esse 1k já não vale de muita coisa. E todos os anos, se nossa economia não cresce e não vemos e testemunhamos as pessoas poderem consumir mais, quer dizer que nossa moeda só perde o valor.
Eu só assinava o serviço da PlayStation Plus em regime anual desde minha primeira assinatura em 2017, quando migrei ao PS4. De lá pra cá só vi o serviço encarecer, continuar na mesma e mesmo na sua nova proposta de perfis diferentes de serviço, não oferecer à mim ou aos assinantes mais antigos, algo que realmente valha à pena pagar. Não há um jogador antigo do serviço que não tenham alguma vez pensado que o ideal seria termos um perfil de assinatura que só oferecesse o acesso, num valor mensal ou anual mais barato que o Essential.
Nem todo mundo está interessado em “ganhar” 3 jogos mensais do qual na avaliação geral dos assinantes, sempre fica devendo. Nessa altura do campeonato, minha biblioteca é tão grande, que nem sempre ganhar esse jogos faz diferença ou é atraente. É melhor o benefício de ganhar um desconto à mais nas promoções semanais que sempre rolam.
Conheço usuários que compram muito em diversas promoções, pois preferem gastar cerca de R$100/200 em diversos jogos do que esse valor ou mais em 1 único jogo, lançamento ou não. Eu não tenho mais a necessidade de jogar o lançamento de forma antecipada, day one ou na semana/mês de lançamento. Obviamente, não estou sendo consumido pelo desejo de jogar os jogos de PS5 que eu acho interessantes. Posso esperar até ano que vem se for o caso.
O que me incomoda é alguns jogos que claramente podem rodar no PS4 serem ignorados pra plataforma. Aqui mesmo no site, acompanhando as notícias, você pode perceber isso. Vários jogos vão sair pra PC, PS5, Xbox Series S/X e Switch. Se vai rodar no Switch, não roda no PS4? São cerca de 60 milhões de consoles ativos no mundo que, juntos com os ativos de PS5 quase chegam à 110 milhões. Quer vender e distribuir apenas pra metade disso??? Não acho inteligente, mas creio eu que é uma forma de forçar com que o jogador migre, ou para os consoles de última geração ou a plataforma que segue recebendo tudo.
É ou não é me afastar dos seus produtos? Tenho um console que ainda me atende muito bem, mas os serviços e jogos estão ficando cada vez mais caros. Tenho que pagar mais caro por algo que não vai me trazer a qualidade sedutora em serviços e títulos. E não, a Sony não está preocupada em ouvir o que seus usuários tem à dizer. Ela seleciona só o que ela quer ouvir. Ela está tomando um rumo parecido com o início da decaída da Xbox.
Ela está preocupada em lançar acessórios. Lançou o PS2VR e abandonou os usuários, que ano após ano sonham com 2 ou 3 novos e relevantes títulos pra compensar o alto investimento. Agora, lançam um adaptador para PC, pra que os usuários possam aproveitar a biblioteca dos jogos de PC, mas que vai capar muito recursos interessantes no uso.
Capas, DualSense e Hadsets coloridos para PS5 são mais apostas do que um serviço mais barato, mais atraente e com mais alcance para angariar mais lucro. Hoje, os serviços de assinatura Plus Extra e Deluxe só são interessantes para o novo usuário PlayStation que não tem jogos ou tem apenas uma biblioteca mediana de jogos pra usufruir. Alí ele economiza jogando.
POUQUÍSSIMOS usuários assinantes da PSN no Brasil com suas contas recheadas de jogos comprados ou gratuitos, se assinam hoje esse serviço, aproveitam de toda ou grande parte da biblioteca. Até por conta da disponibilidade de tempo. É desperdício de dinheiro.
E hoje alguns executivos argumentam que vão existir jogos à US$70. Você espera uma diversão mais barata?
Minha última assinatura PS Plus anual, venceu no começo de abril e eu não renovei diante da grande decepção e indignação com o aumento do valor do serviço. Esperava que nesta Days of Play houvesse uma boa oferta de assinatura para retomar, mas pelo visto não.
Entendo que todo negócio tem que prosperar, que não é caridade, mas hoje em estratégia, oferta de produto e sua qualidade, a PlayStation está me afastando de seus produtos.
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